No Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, diversas organizações, ativistas e representantes das Nações Unidas participaram, em São Tomé, da apresentação da Análise Situacional da Inclusão das Pessoas com Deficiência no país. O estudo, desenvolvido com apoio do Governo e da ONU, revela um quadro considerado “grave”.
Entre os principais desafios apontados, estão discriminação persistente, falta
de acessibilidade, ausência de orçamento inclusivo e a inexistência de
políticas públicas efetivas para as pessoas com deficiência.
“Obrigar uma criança com albinismo a ir à escola sem condições adequadas pode
ser um risco de vida. Falta transporte, falta material, falta apoio.” Quina Bragança
“Há promessas todos os anos. Mas, na prática, nada muda. Nós, pessoas com
deficiência, continuamos a ser deixados para trás.” Martina Luís Presidente da Associação dos Deficientes STP
“Viver com deficiência não é fácil. Eu perdi a visão há 30 anos. Precisamos de soluções, não de justificações.” Participante
O encontro foi marcado por fortes críticas as autoridades, que, segundo as associações, não tem cumprido compromissos assumidos ao longo das últimas décadas.
Os
participantes lembraram que, apesar da existência de legislação, como a Lei
Básica das Pessoas com Deficiência e a Lei de Educação Especial, estas normas estão
desatualizadas, não foram alinhadas à Convenção das Nações Unidas e carecem
de regulamentação.
“A análise mostra que não existe
inclusão efetiva em São Tomé e Príncipe. Apesar de avanços pontuais, a
legislação é insuficiente, não há orçamento sensível à deficiência e os
edifícios públicos permanecem inacessíveis. A estratégia nacional está pronta,
mas ainda não foi aprovada.”
O estudo analisou setores fundamentais — educação, saúde, justiça, proteção social e emprego — e concluiu que a maioria das políticas não contempla, de forma concreta, as necessidades das pessoas com deficiência. As organizações denunciam ainda casos de abandono familiar, falta de apoio médico especializado e inexistência de programas específicos para este público.
“Temos crianças que nunca vão à
escola. Outras ficam escondidas em casa. Falta acompanhamento, falta
transporte, falta dignidade.”
A proposta
agora é que o Governo aprove a Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas
com Deficiência e crie um plano de ação com metas, prazos e orçamento definido.
As Nações
Unidas afirmam que continuarão a apoiar o país na mobilização de recursos.
“Precisamos priorizar, criar
comitês, avançar passo a passo. O relatório oferece um caminho claro para
transformar recomendações em ações.” Ansar Abbas
As
associações reforçam que a luta pela inclusão continua e pedem que o Governo
coloque em prática as políticas já prometidas. No dia em que se celebra a defesa dos direitos das pessoas com deficiência, o
apelo é claro: “Nada sobre nós sem nós”.